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O planeta suporta dobrar o abate para produção de proteína animal?

Por: Marcelo Szpilman

Na entrada do novo século, muito em função da consciência ambiental e das mudanças de conceito sobre qualidade de vida (humana) e bem-estar (animal), os consumidores, especialmente das gerações mais jovens, passaram a questionar de onde vem a carne que comemos e, assim, demandar fontes melhores e mais sustentáveis de produção da proteína animal que colocamos no nosso prato.

Atualmente, a produção de carne no mundo gira em torno de 375 milhões de toneladas por ano, correspondendo ao abate de cerca de 75 bilhões de animais terrestres (bois, porcos, galinhas, ovelhas e outros). Até 2050, de acordo com relatórios da ONU, seria necessário dobrar esses números para produzir carne suficiente para alimentar os 10 bilhões de pessoas que habitarão nosso planeta. Significa dizer que, para atender a essa demanda, o modelo tradicional de produção de proteína animal se mostra absolutamente inviável de ser colocado em prática. Não há mais espaço e água suficientes para dobrar a pecuária mundial __ são necessários 55 m2 de terra e 15 mil litros de água para produzir apenas um quilo de carne bovina. A insistência nesse caminho representaria ainda o aumento assombroso e insustentável na emissão de gases de efeito estufa (metano, em especial), no desmatamento e na geração de resíduos poluentes.

Em se tratando dos animais aquáticos o problema não é muito diferente. Segundo relatório da FAO (órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a produção de peixes (pesca e aquicultura) atinge hoje cerca de 180 milhões de toneladas, correspondendo ao abate de cerca de 200 bilhões de peixes a cada ano. Até 2030, a produção mundial de peixe, o consumo e o comércio devem aumentar, mas com uma taxa de crescimento que decrescerá com o tempo. Isto é, para 2050 não será possível atender a demanda de aumento em 70% na produção de peixe, seja pela pesca, onde 90% dos estoques de pescado selvagem comercial já estão em sua capacidade máxima de exploração, seja pela aquicultura, que, para crescer, necessitaria triplicar a área atualmente ocupada e dobrar a quantidade de pescado selvagem com fins de ração, impactando rios e oceanos com quantidades extraordinárias de resíduos poluentes e contaminantes orgânicos.

Por tudo isso, é seguro afirmar que a bioprodução de carne cultivada, como uma solução inovadora com enorme potencial, cria um modelo muito mais viável e escalável de produção de proteína animal. Uma fonte alternativa local ecologicamente correta de consumo mais saudável, mais seguro, mais confiável e mais sustentável sem a necessidade de dobrar o número de animais de corte e de peixes e seu consequente confinamento, captura e abate.

E é exatamente esse o caminho que a Sustineri Piscis está trilhando como a primeira startup (foodtech) de carne de pescado cultivada brasileira. Carne genuína de peixe, produzida em laboratório, sem abate animal.

* Marcelo Szpilman é biólogo marinho, idealizador, fundador e presidente de honra do AquaRio e fundador e diretor-presidente (CEO) da Sustineri Piscis.

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